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Passo a Passo para Registrar Não Conformidades de Forma Eficiente

Registrar uma não conformidade não deve ser apenas uma obrigação burocrática.

É, na verdade, o primeiro passo para garantir a melhoria contínua e evitar a repetição de erros. E quando se trata de setores críticos — como a indústria farmacêutica e a cadeia logística — esse processo é ainda mais estratégico.

Mas será que as empresas estão registrando da forma certa? Neste guia, vamos mostrar um passo a passo moderno, validado por práticas reconhecidas de qualidade.

O que é uma Não Conformidade?

A não conformidade é qualquer desvio em relação a um requisito previamente estabelecido, seja ele normativo, legal, contratual ou operacional.

Segundo a ABNT NBR ISO 9000:2015, não conformidade é:

“o não atendimento a um requisito”

Ou seja: não se trata apenas de erro ou falha, mas de não seguir aquilo que foi acordado.

Exemplos práticos:

  • Produto com especificação fora do padrão
  • Atraso no transporte por descumprimento de rota
  • Falta de registros obrigatórios no sistema de qualidade

Por que Registrar Não Conformidades?

Pode parecer óbvio, mas ainda há quem minimize o registro de desvios. Um erro comum é “resolver o problema na hora” e seguir em frente. Mas sem registro, não há histórico, rastreabilidade ou plano de ação.

📢 De acordo com o Instituto Brasileiro da Qualidade (IBQP):

“Organizações maduras tratam a não conformidade como um ativo de aprendizado, e não como um item de punição.”

Benefícios diretos do registro eficiente:

  • Melhoria contínua baseada em dados reais
  • Redução de riscos e retrabalhos
  • Cumprimento de normas como ISO 9001, BPF, RDC 430/2020, entre outras
  • Evidências em auditorias internas e externas

1. Identificação Clara e Imediata do Desvio

Assim que o desvio é identificado, o primeiro passo é registrá-lo o quanto antes.

O que deve conter o registro inicial:

  • Data e hora do ocorrido
  • Quem identificou
  • Setor/área envolvida
  • Descrição objetiva do desvio (sem julgamentos)

🎯 Dica importante: use sempre uma linguagem neutra, baseada em fatos. Evite termos como “erro grave”, “culpa”, etc.

“Registros claros evitam interpretações subjetivas e aceleram a investigação.”
Fundação Nacional da Qualidade (FNQ)

2. Classificação do Tipo de Não Conformidade

Nem toda não conformidade tem o mesmo peso. Por isso, classificar corretamente ajuda a definir a urgência e o nível de ação necessária.

Tipos de não conformidades:

  • Crítica: impacto direto na segurança ou conformidade legal (ex: produto contaminado)
  • Maior: quebra de requisito relevante sem impacto imediato à saúde (ex: falha de calibração)
  • Menor: desvio pontual ou com impacto limitado (ex: campo não preenchido corretamente)

Essa classificação precisa estar padronizada na empresa, de preferência com base em normativas técnicas ou requisitos internos.

3. Análise da Causa Raiz

Registrar não é suficiente. O verdadeiro valor vem da análise de causa. Sem isso, corre-se o risco de tratar o sintoma, não a origem.

Ferramentas recomendadas:

  • 5 Porquês
  • Diagrama de Ishikawa (Espinha de Peixe)
  • Análise de Pareto
  • Árvore de Falhas

📌 Exemplo real:

Uma indústria farmacêutica identificou recorrência de desvios por falhas na conferência de notas fiscais. Aplicando os 5 Porquês, descobriu-se que não havia treinamento para novos colaboradores, o que gerava erro na análise documental.

4. Definição e Implementação das Ações Corretivas

Com a causa identificada, é hora de definir ações corretivas, e não apenas medidas paliativas.

⚠️ A ação corretiva precisa eliminar a causa raiz, não apenas “tampar o buraco”.

Exemplos de ações corretivas eficazes:

  • Revisão de procedimento com novo fluxo
  • Treinamento para equipe envolvida
  • Troca de fornecedor com não conformidade recorrente
  • Implantação de verificação automatizada

“As ações devem ser proporcionais ao risco e viáveis na prática.”
Manual de Boas Práticas da Anvisa, 2022

Comparativo: Conformidade x Não Conformidade

AspectoConformidadeNão Conformidade
Atende ao requisito?SimNão
Risco à operaçãoControladoPotencial ou real
Necessita ação corretiva?NãoSim
Valor em auditoriasEvidência de controlePonto crítico de avaliação
Possibilidade de aprendizadoLimitada (situação esperada)Alta (revela falhas no sistema)

5. Monitoramento e Verificação da Eficácia

Após implementar a ação corretiva, é fundamental acompanhar os resultados.

O desvio se repetiu?
A causa foi realmente eliminada?

📊 Indicadores úteis:

  • Taxa de reincidência de não conformidades
  • Tempo médio de resolução
  • Aderência às ações planejadas

Ferramentas como planilhas, dashboards ou softwares como ETQ Reliance, TrackWise ou até CRMs adaptados ajudam nesse monitoramento.

6. Documentação e Comunicação

Todos os registros devem ser mantidos de forma organizada, com acesso controlado, e ser comunicados às áreas envolvidas.

A ISO 9001:2015, nas cláusulas 7.4 e 7.5, destaca a importância da comunicação eficaz e da documentação adequada para garantir a confiabilidade do sistema de gestão da qualidade.

“A organização deve assegurar que as informações documentadas estejam disponíveis e protegidas, e que a comunicação interna seja apropriada.”
ISO 9001:2015, cláusulas 7.4 e 7.5

Checklist da documentação:

  • Registro completo da não conformidade
  • Evidências (fotos, e-mails, prints)
  • Ações corretivas com responsáveis e prazos
  • Verificação de eficácia
  • Assinatura ou validação digital (se necessário)

Cultura de Qualidade: o Registro como Comportamento

Mais do que seguir um passo a passo, registrar não conformidades deve fazer parte da rotina da empresa. Um bom processo reduz riscos, melhora processos e fortalece a confiança nos sistemas internos.

📈 Segundo a Harvard Business Review, organizações que desenvolvem uma cultura de melhoria contínua apresentam maior produtividade, redução de desperdícios e melhor desempenho operacional.

“Construir uma cultura de melhoria contínua ajuda as empresas a crescer com mais agilidade, especialmente em ambientes complexos.”
Harvard Business Review, 2021

Referências

  • Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 9000:2015 – Sistemas de gestão da qualidade – Fundamentos e vocabulário.
  • Anvisa. Manual de Boas Práticas para o Setor Regulado, 2022.
  • Fundação Nacional da Qualidade (FNQ). www.fnq.org.br
  • Sebrae. Guia de Gestão da Qualidade para Pequenos Negócios, 2020.
  • Harvard Business Review. Building a Culture of Continuous Improvement. Publicado em 2021.
  • Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade – www.ibqp.org.br

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