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Logística Reversa no Setor Farmacêutico: O Que Fazer em Casos de Avaria e Devolução

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Quando o assunto é logística farmacêutica, a integridade do produto é inegociável. Mas o que acontece quando há falhas, avarias ou devoluções durante a distribuição?

A devolução de medicamentos no ambiente regulado exige atenção redobrada. É necessário seguir padrões sanitários, rastreabilidade e registros adequados, desde a origem até o destino final.

Neste artigo, você vai entender como funciona a logística reversa nos processos de transporte e armazenagem de medicamentos, o que fazer em casos de não conformidade e como cumprir corretamente as exigências da RDC 430/2020.

O que caracteriza a logística reversa nesse contexto?

A logística reversa no setor farmacêutico envolve o retorno de produtos que:

  • Sofreram avarias durante o transporte;
  • Apresentaram falhas de temperatura ou embalagem;
  • Foram rejeitados por divergência de nota fiscal, validade ou lote;
  • Estão fora dos padrões técnicos exigidos.

Esse processo precisa estar integrado ao Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ), com documentação, segregação física e monitoramento.

“A rastreabilidade e a integridade são fundamentais mesmo em medicamentos devolvidos”, reforça a ANVISA na RDC nº 430/2020.

Situações comuns que exigem retorno de produtos

Alguns exemplos reais incluem:

  • Avaria visível nas embalagens ao abrir o veículo;
  • Ruptura da cadeia fria registrada no datalogger;
  • Troca de produto, lote ou quantidade entregue;
  • Medicamentos com validade comprometida no momento da entrega;
  • Falha documental (nota fiscal, CFOP ou guia de transporte).

⚠️ Em todos os casos, é obrigatório garantir que o retorno ocorra com controle sanitário e rastreabilidade completos.

O que diz a RDC nº 430/2020?

A Resolução da ANVISA estabelece as regras obrigatórias para armazenagem, transporte e devolução de medicamentos. Os principais pontos relacionados à devolução são:

🔹 Art. 5º

As boas práticas aplicam-se também a medicamentos:

  • Vencidos;
  • Recolhidos;
  • Falsificados;
  • Sob suspeita de contaminação ou com danos físicos.

🔹 Art. 36

Os medicamentos devolvidos devem ser segregados fisicamente, com identificação clara e registro da justificativa.

🔹 Art. 47

Devem ser realizadas simulações do processo de devolução, como parte das medidas preventivas do sistema logístico.

“Simulações ajudam a garantir a eficácia das respostas operacionais diante de não conformidades reais.” — ANVISA, RDC 430/2020

Simulações de Devolução: Prevenir antes de remediar

As simulações previstas pela RDC têm como objetivo testar a capacidade técnica e documental para lidar com situações críticas.

Exemplos de simulação:

  • Produto entregue com temperatura fora da faixa;
  • Avaria visível na embalagem ou lacre rompido;
  • Divergência entre produto físico e nota fiscal;
  • Devolução total ou parcial por vencimento.

O que deve ser incluído:

  • Roteiro documentado com objetivo e responsáveis;
  • Respostas operacionais em tempo real;
  • Emissão de documentos reais (simulados);
  • Avaliação crítica e plano de ação pós-simulação.

Etapas do processo de devolução

  1. Identificação do problema no momento do recebimento;
  2. Registro detalhado da ocorrência, com fotos e dados técnicos;
  3. Comunicação com a parte expedidora;
  4. Definição do destino: reenvio, requalificação ou descarte;
  5. Retorno do produto com controle térmico e nota fiscal adequada.

Tipos de devoluções e recomendações

SituaçãoAção RecomendadaPossível Destino Final
Avaria na embalagemRecusar recebimento e registrar ocorrênciaDevolução / descarte
Ruptura de temperaturaNotificar, coletar evidências e manter rastreabilidadeAvaliação técnica / devolução
Produto divergenteRegistrar não conformidadeRetorno com documentação
Validade vencida na entregaRecusar formalmenteDescarte controlado

Documentação obrigatória

Todo o processo de devolução deve ser acompanhado por:

  • Nota fiscal de retorno, com CFOP correto (ex: 5.202 ou 6.202);
  • Relatório de não conformidade (RNC);
  • Formulários de devolução assinados;
  • Comprovantes de transporte e embalagem segura;
  • Registro de temperatura e evidências visuais (fotos, dataloggers).

Esses documentos devem ser mantidos por, no mínimo, dois anos.

Boas práticas operacionais

Para garantir conformidade e segurança:

  • Segregue fisicamente os produtos devolvidos;
  • Mantenha áreas sinalizadas e de acesso controlado;
  • Registre a temperatura durante todo o transporte;
  • Capacite os colaboradores com treinamentos periódicos;
  • Tenha POPs atualizados com os fluxos de devolução.

Comparativo: logística reversa farmacêutica x padrão

CritérioLogística FarmacêuticaLogística Convencional
Rastreabilidade exigidaSimOpcional
Controle de temperaturaObrigatórioEventual
Risco à saúde públicaAltoBaixo
Documentação sanitáriaCompleta e auditávelSimples
Simulações obrigatóriasSimNão

Melhoria contínua do processo

A conformidade com a RDC 430 depende de uma cultura de melhoria contínua. Algumas ações recomendadas:

  • Realizar simulações semestrais e registrar os aprendizados;
  • Automatizar a rastreabilidade documental e térmica;
  • Integrar os sistemas de SGQ e logística;
  • Promover auditorias internas e treinamentos práticos;
  • Trabalhar com parceiros que também seguem a RDC 430.

✅ Conclusão

A logística reversa no setor farmacêutico exige rigor técnico, organização documental e resposta rápida a situações imprevistas.

A RDC 430/2020 reforça que medicamentos devolvidos devem receber o mesmo cuidado que os produtos aptos à comercialização — incluindo simulações, segregação e rastreabilidade.

Tratar a devolução como parte natural da cadeia logística é sinal de maturidade operacional e responsabilidade sanitária.

📚 Referências

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