Imagine perder um lote inteiro de vacinas por conta de uma variação de temperatura que ninguém percebeu. Isso ainda acontece — e mais do que deveria.
No setor logístico, especialmente na cadeia fria farmacêutica, o controle de temperatura não pode falhar. Ele é a base da integridade de medicamentos e imunobiológicos.
A diferença entre monitorar de forma pontual e monitorar continuamente vai muito além da tecnologia. É uma decisão que envolve segurança, conformidade e credibilidade.
🧭 O que é Monitoramento Pontual?
O monitoramento pontual consiste em medir a temperatura em horários específicos, de forma manual ou com instrumentos não integrados.
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no manual de cadeia de frio, “a medição pontual indica apenas as condições no momento da verificação, não oferecendo histórico completo da temperatura.”
🔗 (Manual da Cadeia de Frio – Fiocruz, 2019)
Essa abordagem pode ser útil em ambientes estáveis, mas traz riscos em operações críticas:
- Pode ignorar excursões térmicas entre as medições;
- Depende do registro humano, o que aumenta a chance de erro;
- Não permite rastreabilidade contínua, o que compromete auditorias.
O que é Monitoramento Contínuo?
Já o monitoramento contínuo coleta dados automaticamente e com alta frequência (a cada minuto, por exemplo), oferecendo visibilidade completa das variações térmicas.
A Organização Pan-Americana da Saúde afirma:
“O monitoramento contínuo de temperatura é a prática recomendada para garantir a integridade das vacinas durante o armazenamento e transporte.”
🔗 (OPAS, 2017 – Guia da Cadeia de Frio)
Com sistemas como data loggers ou sensores conectados à nuvem, é possível:
- Gerar alertas automáticos em tempo real;
- Evitar perdas por desvios não identificados;
- Cumprir exigências da RDC 430/2020 da ANVISA, que exige registros contínuos sempre que necessário.
Comparação: Pontual x Contínuo
| Aspecto | Monitoramento Pontual | Monitoramento Contínuo |
|---|---|---|
| Frequência | Esporádica (ex: 2x/dia) | Constante (ex: 1x/min) |
| Histórico completo | Não | Sim |
| Alertas em tempo real | Não | Sim |
| Atende a RDC 430/2020 | Parcialmente | Sim |
| Confiabilidade operacional | Baixa | Alta |
| Dependência do fator humano | Alta | Baixa |
| Custo inicial | Menor | Maior |
Quando Utilizar Cada Tipo?
A escolha depende do nível de criticidade do produto e das exigências sanitárias. A RDC 430/2020 reforça que as condições de transporte devem ser comprovadas e registradas.
➡️ Recomendado o uso pontual quando:
- Os produtos não são termossensíveis;
- A rota é curta e com temperatura estável;
- Há controle ambiental estruturado.
➡️ Recomendado o uso contínuo quando:
- Produtos exigem temperatura entre 2 °C e 8 °C ou controlada;
- Existe risco de perda de estabilidade;
- Há exigência de validação térmica e rastreabilidade.
O que Pode Acontecer sem Controle Efetivo?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “cerca de 50% das vacinas distribuídas globalmente são descartadas, em grande parte, devido à falha na manutenção da cadeia de frio.”
🔗 (OMS, 2021)
Casos reais confirmam os impactos:
- Londrina/PR (2020): 6.000 vacinas contra gripe foram descartadas após falha em geladeira.
🔗 G1 Paraná - Brasil (2022): 14 milhões de vacinas contra Covid-19 foram inutilizadas por falhas logísticas e vencimento.
🔗 Folha de S. Paulo
Tecnologias de Monitoramento Contínuo
A Sensorweb, empresa brasileira, fornece soluções com sensores conectados à nuvem que enviam alertas em tempo real e garantem rastreabilidade conforme a ANVISA exige.
🔗 https://www.sensorweb.com.br/
Principais recursos disponíveis:
- 🔹 Data loggers USB: coletam dados com precisão e permitem exportar relatórios em PDF;
- 🔹 Sensores com Wi-Fi/3G/4G: integrados a plataformas online para análise em tempo real;
- 🔹 Dashboards e histórico automático: facilitam auditorias e tomada de decisão.
📋 O Que Diz a ANVISA?
A RDC nº 430/2020 e o Guia 20/2021 da ANVISA deixam claro que a responsabilidade pela integridade do produto é de todos os envolvidos na cadeia logística.
“É obrigatório o monitoramento das condições ambientais em áreas críticas e durante o transporte de produtos sujeitos à temperatura controlada.”
🔗 (RDC 430/2020 – Art. 51 e Art. 55)
O Guia 20/2021 complementa:
“Deve-se assegurar que os dispositivos utilizados no monitoramento apresentem rastreabilidade metrológica e calibração válida.”
🔗 (Guia nº 20/2021, p. 19)
✅ Checklist: Sua Operação Está Conectada com a Legislação?
- ✅ Seus produtos exigem temperatura controlada?
- ✅ Seu sistema registra variações entre medições?
- ✅ Você tem histórico completo de transporte e armazenagem?
- ✅ Já enfrentou problemas com excursões térmicas?
- ✅ Utiliza sensores com calibração válida?
Se respondeu “sim” a três ou mais perguntas, o monitoramento contínuo é urgente na sua operação.
Benefícios do Monitoramento Contínuo
Além da conformidade legal, há ganhos operacionais e estratégicos com a automação do monitoramento:
- 📉 Redução de perdas por variações de temperatura;
- 📄 Facilidade em auditorias com relatórios automáticos;
- 🔔 Alertas imediatos evitam danos antes que se tornem críticos;
- 🤝 Confiança do cliente e da autoridade sanitária.
Conclusão
Em um cenário onde qualidade e segurança são inegociáveis, o monitoramento contínuo deixou de ser um diferencial — ele é uma necessidade.
Mesmo com um investimento maior, os ganhos em segurança, rastreabilidade e conformidade regulatória superam qualquer custo inicial.
Como bem resume a OPAS:
“O custo do monitoramento contínuo é significativamente menor do que o custo de perder um lote de vacinas.”
🔗 (OPAS, 2017 – Cadeia de Frio)
Referências Oficiais
- OPAS (2017). Guia para a Cadeia de Frio de Vacinas.
- ANVISA. RDC nº 430, de 8 de outubro de 2020.
- ANVISA. Guia nº 20/2021 – BPDAT.
- OMS (2021). Temperature sensitivity of vaccines.
- Fiocruz (2019). Manual da Cadeia de Frio.
- Sensorweb.
Sou Andressa, farmacêutica, graduada em Farmácia no ano de 2012. Ao longo da minha carreira, atuei em farmácias, distribuidoras e transportadoras, com uma ênfase especial no setor de logística farmacêutica.
Tenho uma formação acadêmica sólida, com os seguintes cursos de pós-graduação:
Pós-graduação em Ensino Interdisciplinar em Saúde e Meio Ambiente na Educação Básica pelo IFES (2019).
Pós-graduação em Logística de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária – Medicamentos e Produtos para Saúde pela RACINE (2024).
MBA em Gestão Estratégica de Qualidade com Ênfase na Produtividade pela MULTIVIX (2020).
Com a combinação de experiência prática e conhecimento acadêmico, meu foco está em garantir a qualidade e a segurança dos processos logísticos no setor farmacêutico.