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Validação de Processos Logísticos: O Que é e Por Que Documentar?

“O que não é documentado, não pode ser validado. E o que não é validado, não garante segurança.”

Na logística, especialmente no setor farmacêutico e hospitalar, não há espaço para achismos. Tudo precisa ser padronizado, validado e, claro, documentado.

A validação de processos logísticos vai além de uma exigência regulatória — ela é uma ferramenta fundamental para garantir qualidade, rastreabilidade e segurança.

Empresas que adotam essa prática reduzem riscos, aumentam sua credibilidade perante a ANVISA e ganham eficiência operacional. O desafio está em entender como implementar e documentar esse processo corretamente.

O que é Validação de Processos?

A validação é definida pela RDC nº 658/2022 da ANVISA como:

“A comprovação, por meio de evidências objetivas, de que um processo conduz consistentemente ao resultado pretendido.”
🔗 Fonte: RDC 658/2022 – ANVISA

Ela se aplica, principalmente, a:

  • Ambientes de armazenagem controlados (temperatura/umidade)
  • Transporte com cadeia fria
  • Equipamentos como câmaras frias e embalagens térmicas
  • Processos de monitoramento e alarmes

Esses elementos precisam operar dentro de parâmetros definidos. Se não forem validados, colocam a qualidade dos produtos e a segurança do paciente em risco.

Por que Documentar a Validação?

A ANVISA e outros órgãos reguladores exigem evidências escritas de que o processo foi validado. Isso garante:

  • Rastreabilidade: permite identificar a origem de desvios e suas correções.
  • Conformidade: cumpre normas sanitárias e evita autuações.
  • Segurança do produto: assegura que medicamentos ou insumos estejam eficazes até o uso final.

Segundo o Manual de Boas Práticas de Transporte da ANVISA (2023), a documentação de validação é essencial para avaliar se o produto armazenado ou transportado manteve suas características físico-químicas e microbiológicas.

Quais Processos Precisam Ser Validados?

Nem todos os processos exigem validação formal, mas aqueles considerados críticos sim.

Critérios para determinar a necessidade de validação:

  • O processo pode comprometer a qualidade ou eficácia do produto?
  • Existe risco à segurança do paciente?
  • O processo apresenta variabilidade significativa?

Se sim, ele deve ser validado e documentado.

Exemplos:

  • Transporte de medicamentos termolábeis
  • Uso de caixas térmicas em longas distâncias
  • Monitoramento de temperatura em armazéns
  • Configuração de alarmes e sensores

Etapas da Validação Logística

O processo de validação segue uma estrutura técnica clara, dividida geralmente em quatro fases:

Qualificação de Projeto (DQ)

Verifica se o projeto do equipamento ou estrutura está alinhado aos requisitos operacionais. Exemplo: especificação da câmara fria.

Qualificação de Instalação (IQ)

Confirma que os componentes foram instalados corretamente e estão conforme as normas técnicas e fabricantes.

Qualificação de Operação (OQ)

Testa o funcionamento dentro dos parâmetros de operação definidos (ex.: testes de uniformidade térmica).

Qualificação de Desempenho (PQ)

Avalia o desempenho sob condições reais de uso, com repetição de ciclos e análise de estabilidade.

Exemplos Reais de Validação

Empresas do setor farmacêutico têm casos públicos de validação logística:

Transporte com controle térmico

A Eurofarma já divulgou ações de mapeamento de rotas e uso de data loggers para assegurar a temperatura de 2°C a 8°C no transporte de medicamentos. A empresa participa de eventos como o SINDUSFARMA Quality Symposium, compartilhando essas práticas.

Validação de câmaras frias

A DHL Supply Chain, referência em logística hospitalar, executou validações térmicas em suas estruturas para assegurar o cumprimento da RDC 430/2020. A empresa mantém centros de distribuição validados e auditados em todo o país.

Benefícios Diretos da Validação

Os principais ganhos para empresas que implementam validação de forma eficaz são:

  • 📉 Redução de perdas por desvios não detectados
  • Conformidade em inspeções sanitárias
  • 🚀 Agilidade em licitações com exigências técnicas
  • 📊 Eficiência na tomada de decisão com base em dados

Diferenças: Com Validação vs. Sem Validação

ElementoCom ValidaçãoSem Validação
Conformidade com ANVISA✅ Sim❌ Não
Segurança dos produtos✅ Garantida por evidências❌ Comprometida por incertezas
Riscos de não conformidade✅ Reduzidos❌ Elevados
Eficiência operacional✅ Baseada em dados❌ Baseada em tentativa e erro
Custos com perdas✅ Controlados❌ Frequentemente elevados

Como Estruturar um Relatório de Validação

Um relatório técnico de validação deve conter:

  • Objetivo do estudo
  • Equipamentos, rotas ou áreas analisadas
  • Metodologia aplicada
  • Parâmetros definidos e limites aceitáveis
  • Resultados obtidos
  • Análise crítica e conclusão
  • Plano de ação para ajustes ou desvios

Dica: utilize modelos padronizados e controle de versão dos documentos.

Ferramentas como o Qualiex, MasterControl ou TrackWise auxiliam na automação e organização da documentação.

Boas Práticas para Garantir uma Validação Eficiente

Checklist para execução segura:

  • Planejar com antecedência o estudo
  • Usar equipamentos calibrados e certificados
  • Repetir o processo em diferentes condições
  • Garantir capacitação da equipe envolvida
  • Revisar os dados com profissionais qualificados

Capacitação é essencial. A RACINE e outras instituições oferecem cursos específicos para validação térmica e de processos logísticos com base em normas da ANVISA, OMS e IATA.

O que Acontece Quando Não se Valida?

A ausência de validação pode gerar:

  • ❌ Multas e autuações pela ANVISA
  • ❌ Interdições sanitárias e perdas de contratos
  • ❌ Risco ao paciente e dano à reputação

⚠️ Em inspeções da DIARE/ANVISA, é comum encontrar notificações por ausência de validação de rotas, armazenamento inadequado e falta de evidência de rastreabilidade.

Em 2021, um armazém em São Paulo foi interditado pela ANVISA por não possuir registros de validação térmica, segundo relatório público da Diretoria de Controle e Monitoramento Sanitário.

Validação é Qualidade Aplicada

A validação é muito mais que uma exigência legal. É um diferencial competitivo. Empresas que adotam a cultura de validação conseguem:

  • Operar com maior previsibilidade
  • Reduzir retrabalho e perdas
  • Estar preparadas para auditorias nacionais e internacionais
  • Inspirar confiança no cliente final

Conclusão

A validação de processos logísticos é um dos pilares da Boas Práticas de Armazenagem e Transporte de Medicamentos, exigidas pela ANVISA.

Empresas que documentam e controlam suas operações operam com mais segurança, qualidade e responsabilidade.

Validar é proteger. Documentar é garantir. Implementar é evoluir.

Referências

  • ANVISA. RDC 658/2022 – Boas Práticas de Armazenagem.
  • ANVISA. Manual de Boas Práticas de Transporte de Medicamentos, 2023.
  • Eurofarma. Palestras e publicações no SINDUSFARMA Quality Symposium.
  • DHL Supply Chain. Logística Hospitalar e Validação de Centros.
  • RACINE Educação. Cursos em Validação Térmica e Processos Logísticos.
  • Relatórios da DIARE/ANVISA, inspeções 2021-2023 (consulta via LAI ou boletins públicos).

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